Wednesday, July 27, 2005

Cavalga comigo, as certezas do infortúnio...

Partilha o cavalo comigo, a viagem vai ser longa e nenhum de nós aguentará tanto tempo. O sol que vês agora a surgir prostrar-se-á várias vezes antes de alcançarmos a meta prometida... Muitas vezes partilharemos o espaço exíguo do leito e questionaremos as nossas intenções, mas prometo-te o seguinte... nunca te amarei, poupar-nos-ei desse inferno e a ti delego o mesmo estandarte, para que juntos nos possamos separar, e viver bem com a simples esperança de o outro estar bem... A solidão é uma virtude daqui a poucos kilómetros, onde não faz frio à noite e os dias são cheios de música e companhia à tona da sensibilidade.

Vem comigo e por mais k caias e tentes seguir o teu caminho num sentido, outro, qualquer, eu continuarei e reservarei um lugar na sela para o caso de voltares, um lugar sem perguntas e sem paternalismos, apenas promessas de faltar menos até ao destino...

Não apresses o passo, a lua chora apenas para nos reconfortar, por saber o quanto custa o que passamos, por passar pelo mesmo anos a fio, até se encontrar... Lembras-te de quando fomos ver aquele eclipse juntos? nessa altura chorávamos nós, como se ela nos contagiasse a alegria de mais uma viagem que chegava ao fim...



-F... tás bem? que é que tens?

-Eu estou bem, continua, vemo-nos do outro lado do morro, eu já te apanho...

-Morro? Não tou a perceber nada... Oh meu dEUS, tás a ferver...

Então agarrou-o e encaixou a cabeça dele no seu colo fazendo festas enquanto telefonava ao médico...

-Vai ficar tudo bem... Descansa, que eu trato de ti...

-Estamos a chegar... Daqui de cima vê-se o destino... É lindo... Sentes a brisa quente? Já estamos a chegar...

Wednesday, July 20, 2005

À janela...

Sem chão e sem tecto mas sempre à janela...


...à espera de um fôlego inspirado para as flores cheirar e a lua ouvir cantar, no alto do inatingível...

Reconheces-me agora? Concubina da minha alma, Lampejo do meu ser, conheces-me agora? Através do vidro que diz casa, do pensamento no qual resides e para onde mandas as cartas que nunca conseguirei abrir?

Morres agora?

Comigo?

2 good 4 me


Até um cemitério ensina a viver,
mas será que algum dia
poderá ser detentor ou criador de vida?

Monday, July 18, 2005

Anjo Caído

Algo espeta lah no fundo, adentro da carapaça, onde reside a fragilidade sensível, arrebata-me o momento, impõe-me o peso da solidão e do choque de perceber que nem tu nem ninguém está aqui, ao meu lado...

O vento passa fresco pela face enquanto vejo o chão a aproximar-se velozmente, faltam-me as tuas palavras para eu pairar, o teu sorriso para subir ao firmamento e dizer olá a toda e qualquer estrela, faltas tú... Única... Talvez até inexistente... Musa do meu suspirar.
Sem estas asas construidas de esperança em te encontrar, onde conseguirei eu chegar? Os meus pés já há muito conhecem o chão duro e rude que longe leva apenas os que nas promessas não encontram amor, os meus olhos já não conseguem ver para além do horizonte onde antes estavas tú, imagem esbatida, miragem do meu interior desejo de almejar...
Onde levam então estas marcas no chão? Que dizem agora os pássaros, agora que não os acompanho? Parece que já nem me encontro a mim próprio quando te chamo a ti...

Devolve-me a promessa da tua existência, a fugaz certeza do futuro calor que os teus braços me dariam ao te encontrar, o eclipse que tornaria de noite o mundo inteiro naqueles primeiros instantes, para que a nossa intimidade pudesse recuperar o que tanto aguardou que quase perdeu...

Saturday, July 16, 2005

O sapato de cinderela

-Quando é que descobriste? Qual foi o momento em que passaste a olhar-me assim, com esses olhos?

-Lembras-te de quando elogiaste o meu café em frente de toda a gente?

-Sim...

-Disseste que além do sabor, continha um bocado daquela beleza que marcava tudo o que eu tocava, tudo o que fazia, como se eu fosse a essência da beleza e andasse a distribuí-la pelas coisas e pessoas...

-"Tornando tudo um pouco mais colorido e elegante aos meus olhos... Um simples café fez-me aperceber o quão feliz eu fico ao sentir que pertenço a uma parte do mundo que ela transforma!" por acaso devo admitir que estava um tanto inspirado nesse momento...

-Mas não foi só a frase que me fez acordar, foi o facto de a dizeres sem tirares os olhos de mim... Ias articulando as palavras enquanto percorrias os olhos por cada milímetro da minha cara, como se definisses uma paisagem à medida que ela te aparecia no campo de visão... Aí percebi que te era inata essa capacidade de criar harmonia entre as coisas e a beleza das palavras que as definem...

-Daí apaixonar-me pela beleza em si... Se soubesses o quão difícil é conviver com o que passamos a vida a tentar descrever, sabendo nunca chegar ás palavras realmente dignas de tal esforço, por não as haver...

-Então não confies nas palavras, deixa os teus olhos falarem por ti... Porque se dizes que eles vêem a beleza, eu digo-te que eles a reflectem na perfeição...

Tuesday, July 12, 2005

Ou por quem sejas, ou por quem sou...

Porque sei ao que chegarei se te propuser o mundo, e ao teu mundo me render sem consequências pensadas, sentidas ou até pisadas... Porque a mim me vou devolver, agraciar com o que me é devido, ou nunca mais serei eu, e tú serás você, nunca... Porque sei que à medida que o sol baixa, a tua pele fica mais morena, os teus olhos aclaram, acreditando poder-me reconhecer onde só há escuridão. Porque sei que a silhueta que esboço nos sonhos à noite só poderá ter como companheiro o teu cheiro, que dança comigo nas memórias de algo que ainda não aconteceu... Ou como se te conhecesse desde que abri os olhos, te venerasse, procurasse durante toda uma vida e só te conseguisse provar num beijo às portas do meu último suspiro.

Monday, July 04, 2005

Por onde passas...

Por onde passas tu a esta hora, com esse teu doce cheiro acetinado e valquírias enquanto pegadas? Por que viela do pensamento andas, diz-me, e eu estarei numa qualquer janela a sorver a harmonia de cada passo teu... Mas não te voltes para trás, não me dirijas o sorriso nem tão pouco o olhar, não me conheças, ainda não... Deixa a linha do destino nos levar a essa página do livro que foi escrito quando nasci, karma de felicidade, lampejo de unicidade garantida às metades da mesma essência quando se encontram... Espera por esse momento, eu esperarei também, contigo no pensamento. E no fim, lá estarei com o copo levantado bem alto, a brindar ao início do universo, ao rumo de cada partícula, de cada corpo. O meu, o teu, o nosso, e à sua intersecção na criação de então algo novo...

Até lá, o pôr do sol, o luar, a brisa quente de verão, as flores de amendoeira, os risos ingénuos das crianças e até o ronronar suave do meu gato serão repartidos, porque o mundo inteiro estará dividido em dois...